Assista aqui a inserção publicitária na TV do pré-candidato do PPS à Prefeitura de Guarulhos, Orlando Fantazini.
Orlando Fantazzini Neto, 49 anos, é advogado. Foi vereador em Guarulhos de 1989 a 2000, quando assumiu pela primeira vez um mandato de deputado federal.
Em 2003 foi reeleito deputado federal e em 2005 trocou o Partido dos Trabalhadores, ao qual era filiado desde 1987, pelo PSOL, sigla com a qual não conseguiu a reeleição em 2006, ficando como primeiro suplente.
Na Câmara presidiu a Comissão de Direitos Humanos e deu início à campanha contra o baixo nível da programação de televisão: "Quem financia a baixaria é contra a cidadania."
Filiou-se ao PPS no dia 4 de outubro do ano passado.
Reveja abaixo a entrevista publicada no Portal do PPS no dia da filiação.
Portal do PPS - Por que o senhor escolheu o PPS depois de ser quadro do PT desde 1987 e fundar o Psol?
Orlando Fantazini - Olha, venho mantendo vínculo com o PPS há sete anos. Ajudei na estruturação do partido em Guarulhos, em 2000. Já tinha convite do PPS para que eu disputasse a prefeitura [de Guaraulhos], mas insisti na disputa interna do PT. Depois, com o desencanto com o PT, em razão de o governo Lula não cumprir com os compromissos assumidos com a classe trabalhadora, não tinha mais porque permanecer no partido. Por esse motivo fundamos o PSol, que acredito é um partido para o futuro, a ser construído ainda. Te confesso que não tenho mais estrutura para recomeçar e refundar um novo partido. Então, aceitei o convite e me filiei ao PPS, que é um partido estruturado e socialista, um partido que tem sinalizado fortemente compromissos com a sociedade na contraposição das iniciativas do governo Lula que estão na contramão dos interesses do país.
Portal - O senhor não acha que o PT traiu os seus ideais ao chegar ao poder com Lula?
Fantazini - Não vou dizer que foi o PT, mas a direção partidária. Aqueles que dirigem o partido, que tem maioria nas instâncias decisórias, acabaram enveredando para um caminho que não era aquele construído ao longo dos anos com muita luta e sacrifícios. Acabaram optando para o caminho mais fácil. Digo sempre que existem duas formas de atravessar uma rodovia: correndo para chegar do outro lado enfrentando grande risco [de morte] e a outra atravessando seguramente pela passarela, que dá mais trabalho porque se tem de andar mais. E o PT escolheu a primeira alternativa, colocando em risco não só o partido, mas também toda a sociedade brasileira. Acredito que isso é uma grande irresponsabilidade [da direção partidária].
Portal - Como pré-candidato a prefeito de Guarulhos, quais são seus planos para governar a cidade?
Fantazini - Para se administrar uma cidade é preciso levar em conta, em primeiro lugar, os interesses da sua população. O que não pode ser levado em consideração são os interesses exclusivos de grupos econômicos e políticos. É preciso considerar o conjunto da cidade, que são seus moradores. Todos administradores que passaram por Guarulhos só se preocuparam em garantir o que chamo de perfumaria, ou seja, fazer as obrinhas bonitinhas para ganhar voto sem, no entanto, investir na melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. [O resultado é que] o IDH (Índice de Desenvolvimento Urbano) é muito baixo. O atual prefeito [Elói Pietá (PT)]fez várias escolas, pintou elas de vermelho, distribuiu mochilas e uniformes para as crianças mas, entretanto, a avaliação do MEC (Ministério da Educação) aponta que o ensino em Guarulhos é um dos piores do Brasil. Mais importante do que fazer pirotecnia é dar condições dignas para a população. Então, o que nos pretendemos fazer é garantir melhor qualidade de vida e participação efetiva e democrática, sem contudo perseguir os que se opõe a administração como faz hoje o atual prefeito por meio de sanções e penalidades. Democracia não é isso porque as pessoas tem o direito de discordar e de dizer que não apóiam determinas iniciativas. O que nós pretendemos é resgatar a dignidade do povo guarulhense pela inversão da lógica da pirotecnia e do bombardeio da propaganda [do governo], que dá apenas a sensação de que tudo vai bem no município.
Portal - O senhor já tem um raio X dos problemas que a cidade enfrenta?
Fantazini - Sim. Apesar de Guarulhos ser a 13ª economia do país, a cidade não tem um metro cúbico de esgoto tratado. Quem mais polui o rio Tietê hoje é a cidade de Guarulhos. A população paga 80% do consumo de água de taxa de esgoto para poluir nossos córregos, nascentes e o Tietê. Queremos implementar um projeto de saneamento básico porque a melhoria dessa estrutura irá reduzir a incidência de doenças. Guarulhos também é um caos quando o assunto é saúde. As pessoas as vezes tem de aguardar um ano para fazer um exame. As mulheres sofrem muito com essa demora. Quando fazem o exame e descobrem algum tumor, ele já não é mais reversível. É uma situação preocupante. Outros pontos que queremos atacar é a exploração sexual infantil e o trabalho infantil que hoje existem vergonhosamente no centro da cidade; a violência e o transporte público. As concessionárias de transporte da cidade são as mesmas há décadas e não oferecem um serviço de qualidade. Temos também de fazer o debate sobre o meio ambiente, porque os lixões estão saturados e precisamos buscar saídas que não podem sair da cabeça de apenas uma pessoa. Tem de ser um amplo debate com a sociedade de forma democrática e transparente. A sociedade precisa participar ativamente dessas decisões.
Portal - Além da sociedade, o senhor quer atrair quais partidos para levar adiante este projeto?
Fantazini - Uma das coisas que me deixou muito feliz quando assinei a ficha de filiação no PPS, foi presença de representantes de vários partidos da cidade nesse ato. Aproveitei a oportunidade para convidar todos a se juntarem a nós com o objetivo de fazermos um programa de governo que contemple todos os aspectos que envolvem a administração. Mesmo nos partidos que terão candidatos próprios a prefeitura encontrei sinalizações favoráveis a nossa proposta. Se a disputa se resumir unicamente em quem vai ocupar a cadeira de prefeito, por certo iremos favorecer o partido que governa a cidade. É aquela velha máxima: “dividir para governar” ainda funciona. As oposições terão de se unir na perspectiva da construção de um programa em que a cidade é o objetivo central. As nossas disputas não devem estar focadas nas minúcias programáticas, mas sim naquilo que é ruim para a cidade, que são os oito anos da administração de um mesmo partido. Mesmo tendo conseguido a reeleição no primeiro turno [em 2004], o atual prefeito assumiu uma postura extremamente autoritária que é incompatível com o momento que vivemos neste século.
Portal - Qual a avaliação que o senhor faz da administração do prefeito Elói Pietá?
Fantazini - Se comparada as anteriores pode ser considerada de regular para medíocre. Entretanto, uma administração não pode ser comprada com o que existiu de pior. Mas pelo que teve de melhor. São muitas obras e ninguém discute o custo, que é outro problema. Quando se constrói prédios públicos você tem que fazer a relação custo-benefício. A administração gasta mais com propaganda do que nas áreas que poderiam beneficiar a população. Considerando todos esses aspectos, volto a repetir, é um governo de regular para medíocre, porque não leva em conta os interesses da população.
Portal - O viés autoritário do governo impede que a população seja ouvida, é isso?
Fantazini - A população é ouvida na elaboração do chamado Orçamento Participativo, mas a decisão final é do prefeito. Há apenas a sensação de participação sem que isso signifique participação efetiva. Já os partidos que se colocam contrários numa votação [na Câmara de Vereadores] são retaliados de forma a ficar claro quem manda na cidade. Esse tipo de comportamento não ajuda a democracia e o desenvolvimento. Temos de romper com esse processo porque os agentes políticos são representantes da vontade do povo. Se perdemos de vista o fato de que ao assumirmos o mandato estamos representando vontade de terceiros, corremos o risco de reforçar idéias e valores que no passado trouxeram grandes prejuízos à humanidade, como [Adolf] Hitler tentando dominar a Europa. Então, não podemos aceitar nem o fascismo da direita e nem o stalinismo da esquerda. Temos que construir uma via democrática.
Portal - A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a fidelidade partidária irá moralizar o troca-troca de legendas na sua opinião?
Fantazini - A fidelidade partidária para mim é uma via de mão dupla. O mandato tem de ser do partido porque ninguém se elege só. Quando nos elegemos – e agora uso meu exemplo por ter deixado o PT – conquistamos o mandato com um programa. Fui a minha base dizer que se nós ganhássemos iríamos fazer a reforma agrária, acabar com o privilégio dos banqueiros. Esse foi o discurso e por isso foi eleito, porque os eleitores acreditaram em mim e que o meu partido, chegando ao poder, iria implementar o que defendíamos na campanha. Se o meu partido no poder tivesse implementando essas ações e eu o deixasse, deveria perder o mandato. Porém, a outra mão da via é o partido dizer que não vai fazer nada daquilo que prometeu e você, como deputado eleito pela legenda, ser obrigado a concordar com isso. Nesse aspecto o parlamentar não deve nenhuma fidelidade a essa postura do partido. A decisão do STF foi extremamente importante e o PPS cumpriu um papel relevante nesta questão ao propor o mandado de segurança que originou o entendimento que o mandato proporcional [de deputados federais, estaduais e de vereadores] pertence ao partido e não ao eleito. Se perdemos de vista que os mandatos são dos partidos, não precisaríamos mais deles. O partido é fundamental. Não existe democracia sem partido político.
Portal - O fim da CPMF comprometeria os programas sociais, como alega o governo?
Fantazini - Isso é uma grande chantagem do governo Lula. No meu primeiro mandato [como deputado federal do PT] fazia oposição ao governo FHC e o partido era radicalmente contra a CPMF. Argumentávamos que o tributo era uma balela, uma forma de engordar o caixa do governo e que o dinheiro arrecadado não ia para a saúde, mas para pagar a dívida externa... Mas quando o PT chegou ao poder a CPMF ficou extremamente importante, e agora o governo Lula chantageia com todo tipo de argumentos, de que se não for prorrogada o Bolsa-Família vai acabar, por exemplo. Sou contra a continuidade da CPMF no aspecto tributário, embora entenda que é importante como instrumento para fiscalizar os sonegadores. Precisamos fazer a reforma tributária porque nem o empresariado e nem a população agüentam pagar tantos impostos. Outra coisa é parar com a farra que se faz com dinheiro público. Parece que aqueles que no passado denunciavam as mazelas aprenderam a praticá-las.