Com a presença de 2.552 delegados e cerca de 600 organizações sindicais (sindicatos, federações e confederações) foi fundada a União Geral dos Trabalhadores (UGT), em Congresso de Fundação realizado dias 19, 20 e 21 de julho, no Palácio de Convenções do Anhembi.
A UGT é resultado da fusão entre três centrais sindicais (Coonfederação Geral dos Trabalhadores - CGT; Central Autônoma dos Trabalhadores - CAT; Social Democracia Sindical - SDS) e mais o chamado Grupo dos Independentes (GI), que reúne ex-forcistas, ex-cutistas, ex-Nova Central e organizações sindicais que nunca filiaram-se a nenhuma central.
O congresso contou ainda com as presenças do Governador do Estado de São Paulo, José Serra; do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab; do ministro da Previdência, Luiz Marinho; do Secretário-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci; do Secretário Nacional do Trabalho do Ministério do Trabalho, Luis Antonio Medeiros; dos deputados estaduais David Zaia (PPS-SP) e Vicente Cândido (PT-SP); do deputado federal Roberto Santiago (PV-SP) e de várias delegações internacionais.
O primeiro dia, 19, teve, logo pela manhã, a votação unânime sobre a fundação da UGT. Na abertura do Congresso, a UGT homenageou vários sindicalistas históricos, dentre os quais se destacam: Roberto Morena, Lyndolpho Silva, José Raymundo da Silva, Hércules Correa dos Reis, Luiz Tenório de Lima (todos militantes do antigo PCB), Clodesmidt Riani (ex-presidente do Comando Geral dos Trabalhadores - CGT) e uma homenagem às mulheres.
O mestre de cerimônia do Congresso da UGT foi o ator e vereador carioca Stepan Nercessian, membro do Diretório Nacional do PPS e presidente da Fundação Astrojildo Pereira. Foi ele quem leu o resumo das biografias dos homenageados, o Manifesto de Fundação da UGT e o texto em Homenagem às Mulheres (reproduzidos abaixo).
A Executiva Nacional da UGT possui vários sindicalistas do PPS. Num levantamento preliminar, podemos citar:
· Chiquinho Pereira - Capital/SP - Presidente do Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Secretário de Organização e Políticas Sindicais da UGT
· David Zaia - Campinas/SP - Presidente da Federação dos Bancários de Sâo Paulo e Mato Grosso do Sul - Vice-Presidente da UGT (a UGT possui um conselho de oito Vice-Presidentes)
· Arnaldo de Souza Benedetti - Ribeirão Preto/SP - Presidente do Sindicato dos Bancários de Ribeirão Preto - Secretário de Relações Internacionais da UGT
· Reginaldo Breda - Rio Claro/SP - Presidente do Sindicato dos Bancários de São José do Rio Claro - Secretário de Formação Sindical da UGT
· José Antonio Fernandes Paiva - Piracicaba/SP - Presidente do Sindicato dos Bancários de Piracicaba - Secretário da Região Sudeste da UGT
· Marcos Sergio Duarte, o Marquito - Santos/SP - Presidente do Sindicato dos Urbanitários de Santos - Secretário Adjunto da Secretaria do Trabalhador Urbanitário da UGT
· Fernando Antunes - Brasília-DF - Presidente do Sindicato Nacional de Analistas e Técnico em Finanças - 2° Secretário Adjunto da Secretaria dos Servidores Públicos da UGT
· José Grimaldi Santiago - Guarulhos/SP - Presidente do Sindicato dos Rodoviários de Guarulhos - Secretário Executivo da UGT
· Valter da Silva Rocha - Capital/SP - Secretário-Geral do Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Secretário Executivo da UGT
A presidente do Sindicato dos Frentistas de Guarulhos, Telma Cardia, que assumiu a 2ª Secretaria da Criança e do Adolescente, poderá também se filiar no PPS.
Manifesto de Fundação da União Geral dos Trabalhadores
Impulsionados pela vertiginosa globalização e pela espetacular revolução científico-tecnológica, o Brasil e o mundo passam por profundas transformações nas esferas informacional, econômica, financeira, trabalhista, sindical, política, social, cultural, ético-moral bem como nas relações do gênero humano com o próprio meio ambiente.
De caráter universal, interdependente e contraditório, tais transformações sepultam velhos paradigmas e criam caminhos que clamam a gestação de outros novos, enterram antigas concepções ao mesmo tempo em que exigem outras radicalmente inovadoras, desintegram dogmas e forçam o nascimento de visões contemporâneas frente aos inéditos desafios globais e locais, condenam os que vivem do limitado corporativismo-economicista e impulsionam a autotransformação inovadora de todos quantos almejam e lutam por um futuro que, excluindo a barbárie, permita aos povos coexistirem dentro de um mundo que desejamos democrático, justo, pacífico, fraterno, solidário, integrado, multilateralista, desenvolvido e ambientalmente sustentável.
Esse novo mundo - cujos impactos no Brasil são atordoantes em termos de introdução de novas formas de organização da produção e do trabalho, novas tecnologias, novos métodos administrativo-gerenciais e novas formas de remuneração dos trabalhadores, além da crescente informalidade do mercado de trabalho - coloca a necessidade de se abrir um novo ciclo histórico ofensivo do movimento sindical brasileiro, que, nos últimos anos, apresenta claros sinais de esgotamento de suas concepções, ideais, proposições, sonhos, esperanças, organizações, práticas e métodos de luta.
Nós, trabalhadoras e trabalhadores brasileiros, representando as mais diversas categorias e ramos de produção e de serviços, reunindo as mais ricas e plurais experiências de luta, aglutinando sonhos e esperanças de milhões, oriundos das mais diversas centrais, sindicatos, federações e confederações, resolvemos enfrentar os desafios presentes e futuros através da criação de um novo instrumento de luta do mundo do trabalho, a União Geral dos Trabalhadores - UGT.
A união que hoje consagramos ao darmos vida à UGT não significa, em hipótese alguma, renegar a bela história de que somos detentores; pelo contrário, significa a unidade, numa síntese em escala superior, dessas mesmas trajetórias para que possamos continuar a contribuir para escrever novas e belas páginas históricas de luta do movimento sindical e popular a favor do mundo do trabalho, do povo brasileiro e de todos os povos do mundo.
Por isso, diante da necessidade urgente de se redefinir a geografia sindical brasileira, a UGT procura traçar uma nova trajetória sindical para o século XXI, um novo caminho capaz de ganhar mentes e corações, em especial os da juventude que aspira a um outro futuro.
A UGT, ao negar o autoritarismo e o hegemonismo é, assim, desde sua formação, uma Central democrática, pluralista em idéias, moderna, inovadora, integradora, pacifista, ecológica, laica, internacionalista e um instrumento que combina a luta pela satisfação dos interesses econômicos e sociais imediatos das trabalhadoras e trabalhadores com as lutas democráticas e progressistas gerais do povo brasileiro.
A UGT é amante da paz e do internacionalismo - marcas indeclináveis do movimento sindical mundial. É, portanto, defensora do desarmamento nuclear; da destruição de todas as armas de extermínio de massa; do uso da força da diplomacia ao invés da diplomacia da força na solução dos conflitos internacionais; da autodeterminação dos povos; da reforma democrática da Organização das Nações Unidas e de todos os organismos internacionais multilaterais.
A UGT repudia toda e qualquer forma de xenofobia, violência (física, moral, psicológica, política, cultural), terrorismo, discriminação e preconceito (raça, etnia, gênero, orientação afetivo-sexual, religião, opinião política, nacionalidade, origem social, portadores de deficiência física e situação econômica).
A UGT luta pela reversão dos fenômenos ecológicos negativos e pelo desenvolvimento ambientalmente sustentável do planeta de modo a impedir a ocorrência de um infarto ecológico mundial. Esta é uma das lutas mais importantes de toda a humanidade, ainda que tal batalha vá contra os interesses do grande capital que, sob a lógica do curto prazo e utilitarista da natureza, põe em risco a própria sobrevivência do planeta.
A UGT defende a inclusão no histórico e consagrado vocabulário do movimento sindical (emprego, justa remuneração, melhoria das condições de trabalho, paz, solidariedade, justiça social) um novo vocabulário, contemporâneo: desarmamento, segurança e governança global, ampliação da democracia, desenvolvimento sustentável, multilateralismo, integração soberana e competitiva, multietnicidade, cidadania, respeito à diversidade, democratização das conquistas da ciência e da tecnologia, direitos humanos,laicidade, inovação, ética.
A UGT é uma resposta humanista aos que acreditam na possibilidade de uma vida igualitária e libertária para todos os seres humanos, através de um novo modelo de desenvolvimento cujo centro é o ser humano e capaz de eliminar a injusta distribuição de renda, acabando com a brutal concentração hoje existente.
A UGT entende ser necessário um amplo debate e um pacto que objetivem a realização de reformas democráticas em nosso País visando um outro tipo de desenvolvimento. Urge a Reforma do Estado no Brasil que abrange as reformas política, fiscal, financeira, tributária, previdenciária, agrária, sindical, trabalhista - sem prejuízo às trabalhadoras e trabalhadores -, do pacto federativo e do Judiciário.
Acreditamos que, dessa forma, o Brasil combaterá e superará as históricas injustiças praticadas pelo sistema vigente.
A UGT entende a democracia política como um valor universal e defende a sua ampliação como estratégia permanente para se avançar na democracia econômica, social, cultural e informacional. Para tanto, defende o constante aperfeiçoamento das instituições democráticas, maior participação do mundo do trabalho na política, nas instituições - inclusive no Parlamento -, no poder local e na promoção permanente da cidadania como caminhos para eliminar a exclusão política da esmagadora maioria das trabalhadoras e trabalhadores e do povo brasileiro nos principais centros decisórios do País.
A UGT defende a constituição em nosso País de uma democracia econômica fundada na liberdade de organização no local de trabalho, no aumento da participação das trabalhadoras e trabalhadores nos lucros e resultados, na participação do mundo do trabalho na gestão da empresa e da economia (principalmente nos órgãos responsáveis pelas políticas macroeconômicas), na defesa das conquistas históricas e na fundação de novos direitos, na erradicação do trabalho infantil e do trabalho escravo, no direito ao trabalho decente, no tratamento justo às trabalhadoras e trabalhadores migrantes, na soberania do consumidor e do cidadão, na defesa das mais amplas regras da concorrência, impedindo assim os cartéis, monopólios etc.
A UGT defende a constituição em nosso País de uma democracia social fundada na materialização dos direitos sociais consagrados na Constituição Federal, assegurando assim a satisfação dos direitos básicos e avançados (moradia, alimentação, educação, cultura, segurança pública, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte, previdência social digna, qualificação e requalificação permanentes, emprego digno e inclusão digital).
A UGT não usará nem instrumentalizará os sindicatos de sua base para benefício, prestígio ou destaque de uns poucos e grandes sindicatos, federações e confederações. A democracia, liberdade, pluralismo de idéias e igualdade de oportunidades que defendemos para o mundo e para o Brasil, também serão praticadas no interior da UGT.
A UGT constitui um esforço moral e intelectual abnegado à luta incansável de todas as trabalhadoras e todos os trabalhadores que, ao fundarem-na, crêem num papel destacado do mundo do trabalho para impulsionar a marcha ascensional do gênero humano em direção à luz, felicidade, democracia, paz, progresso, maximização do bem estar e à solidariedade internacional de todos os povos do mundo.
Este é o horizonte ideal pelo qual lutamos e esta é a missão histórica que se atribui à UGT, comprometida com a inovação e ética sindicais e transformadora das atuais estruturas sócio-econômicas e capaz de levar o mundo do trabalho e o Brasil a transitarem para uma nova etapa histórica.
A UGT é, assim, a casa comum de todos, trabalhadoras e trabalhadores que, lutando ombreados, abraçam a sabedoria e a esperança como as bases para a construção de um futuro melhor, democrático e humanista, um futuro em que o sorriso sobrepuje as lágrimas; a solidariedade destrua o egoísmo; a felicidade reine sobre a dor; a paz vença a guerra; a abundância relegue a escassez aos livros da pré-história da humanidade; a liberdade aniquile a opressão; a corrupção seja debelada; a ciência impere sobre o obscurantismo, e o ser humano, enfim, possa ver no outro não um inimigo, mas um amigo leal, fraterno e solidário.
Viva a Paz!
Viva a Democracia!
Viva o Desenvolvimento Sustentável!
Viva o Internacionalismo de todos os trabalhadores!
Viva a União Geral dos Trabalhadores!
Homenagem às Mulheres (lida na Abertura do Congresso por Stepan Nercessian)
Na sociedade brasileira de tradição paternalista, autoritária e machista, raríssimas mulheres atingiram a presidência ou a diretoria de Federações ou Sindicatos de trabalhadores.
Entre elas, Maria Segóvia, Presidente do Sindicato dos Alfaiates e Costureiras -RJ, Eustáquia de Souza, Presidente do Sindicato das Telefonistas - SP, Eunice Longo e Yolanda Picinger Ramos, diretoras do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem - SP e esta última também da Federação Brasileira desta categoria.
Mas as mulheres eram maioria nas indústrias têxteis, confecções, telefonistas, e numerosas nas de alimentação. Estas mulheres iniciaram muito jovens sua labuta nas fábricas ou no campo, onde forjaram sua consciência político-social. Participaram de lutas e greves heróicas por melhores condições de vida e trabalho sendo perseguidas e presas.
Lembremos ainda da negra Julia Santiago, fundadora do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis - PE, Julieta Batistioli, líder tecelã no RS, Olívia Calábria, organizadora de camponeses no Triângulo Mineiro e as paulistas: Erundina Arruda, Carmen Savietto, Maria Salas, Ignez Augusto, Adoração Vilar Sanches na indústria e Aparecida Azedo, no campo. Nossas homenagens a todas estas mulheres e a muitas outras anônimas que participaram das lutas dos trabalhadores brasileiros por um mundo mais justo, libertário e democrático.