Roberto Freire é um dos mais respeitados e influentes políticos brasileiros.
Presidente nacional do Partido Popular Socialista (PPS) e atualmente primeiro suplente de senador pelo estado de Pernambuco, está fixando domicílio em São Paulo, de onde conduz o debate suprapartidário sobre os rumos da esquerda democrática e um novo projeto socioeconômico e político para o Brasil.
Conhecedor profundo dos problemas brasileiros e observador crítico e atualizado dos fatos mundiais contemporâneos, Roberto Freire é reputado por toda a mídia como um político sério e competente. Não foi à toa que o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) o escolheu por 14 anos, sucessivamente, como um dos 100 "cabeças" do Congresso Nacional.
Roberto Freire chegou a este patamar de reconhecimento público por suas idéias, convicções e atitudes. O seu nome sempre esteve no rol dos políticos sérios, sem uma só denúncia ou suspeita sobre a sua atuação – e este é o seu maior patrimônio político após 32 anos ininterruptos na política (um mandato como senador, cinco mandatos como deputado federal e um como estadual).
Família, infância e juventude
Roberto João Pereira Freire nasceu no Recife (PE), em 20 de abril de 1942, em uma família de classe média. O pai, João Figueiredo Freire, era funcionário de pequenas empresas privadas, dos ramos de comércio e indústria na capital pernambucana, e a mãe, Maria de Lurdes Pereira Freire, cuidava dos trabalhos domésticos.
É pai de cinco filhos: Marta, Cláudia, Luciana, Mariana e João.
Durante a juventude, praticou várias atividades desportivas, principalmente no Sport Clube do Recife (seu time de coração), e chegou a integrar a seleção pernambucana de basquete.
Começou a militar na política em 1962, quando era estudante da Faculdade de Direito da UFPE. Também atuou como advogado sindical no escritório de Rildo Souto Maior e Chico Maia, defendendo trabalhadores rurais sob a liderança de Gregório Bezerra (político, líder comunista, ex-sargento do Exército e dirigente da Aliança Nacional Libertadora), quando estreita suas relações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB) – o velho "Partidão" de 1922.
A trajetória do homem público
Freire ingressou no serviço público no ano de 1967, após ser aprovado em primeiro lugar no concurso para gerente de Cooperativa Integral de Reforma Agrária realizado pelo IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma Agrária). Posteriormente, foi aprovado em concurso interno de ascenção funcional para o cargo de procurador autárquico do IBRA. Hoje é procurador aposentado do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Freire disputou pela primeira vez uma eleição em 1972. Candidato a prefeito de Olinda (pelo MDB), foi o mais votado, mas perdeu para a soma dos votos das duas sublegendas da ARENA.
O primeiro mandato, de deputado estadual, foi conquistado em 1974 pelo então MDB.
Freire protagonizou vários embates na luta pela democracia, como em 1º de setembro de 1978, quando foi o único parlamentar a subir à tribuna para contestar energicamente a eleição de governadores e senadores biônicos. Por sua conduta combativa e homem de princípios, foi considerado pelos jornalistas do comitê da Assembléia pernambucana um dos mais destacados políticos daquela legislatura.
A partir da experiência em Pernambuco, e considerado um dos expoentes da esquerda nordestina, Freire começa a sua carreira em âmbito nacional (na foto, abraça D. Hélder Câmara).
Foi eleito para quatro mandatos sucessivos de deputado federal, de 1979 a 1994. Em seguida elege-se senador (mandato de 8 anos). De 2003 a 2006, volta à Câmara para o seu quinto mandato como deputado federal.
Movimento Democrático Brasileiro
Na Câmara dos Deputados, Freire foi vice-líder do MDB de Freitas Nobre e Ulysses Guimarães e participou ativamente dos trabalhos das comissões, sobressaindo-se dentre elas a que tratou da Lei de Anistia.
Também participou na linha de frente da campanha das "Diretas Já" e, com a derrota da emenda Dante de Oliveira, enfrentou setores da esquerda equivocados (liderados pelo PT) que eram contra a participação no Colégio Eleitoral que elegeria Tancredo Neves e José Sarney, sepultando definitivamente o regime militar.
Freire apoiou e participou do processo de reconstrução das entidades estudantis livres e da UNE. Esteve em todos os congressos que discutiram a criação de uma central de trabalhadores. Também freqüentou intensamente os movimentos grevistas e sindicais dos trabalhadores, em Pernambuco, no ABC, em São Paulo e em quase todos os estados brasileiros.
Assembléia Constituinte
Como líder do PCB, teve papel destacado na Assembléia Constituinte. Está entre os dez parlamentares que mais freqüentaram o debate em Plenário, é autor de mais de 500 propostas inseridas no texto constitucional e ajudou a resolver impasses quando conceituou o princípio da emenda aglutinativa, incorporada posteriormente pelos regimentos das Casas no Congresso Nacional e em outros legislativos brasileiros.
Na Constituinte, Freire marcou posição em temas como a definição da função social da propriedade privada; a liberdade religiosa, de pensamento e de informação; a ampliação dos direitos individuais, incluindo o de greve para trabalhadores da iniciativa privada e para os servidores; o acesso à saúde pública por meio da criação do SUS; o fortalecimento das universidades públicas e o maior apoio à ciência e à tecnologia.
Partido Popular Socialista
Em 1992, tornou-se líder do governo Itamar Franco após a cassação do presidente Fernando Collor.
No Senado (de 1995 a 2002), como líder do PPS, tornou-se referência na luta pela afirmação dos princípios republicanos, pela celebração de um novo pacto federativo e na defesa de políticas sólidas, garantidoras do desenvolvimento regional, com destaque para as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
Socialista, humanista e libertário por convicção, ao longo de seus 32 anos de carreira pública ininterrupta, Freire se transformou em um dos símbolos na luta pelo fim da ditadura e pela retomada da democracia. E nessa caminhada sempre defendeu amplas alianças e combateu posturas de esquerda excludentes, irresponsáveis e rancorosas.
Roberto Freire acredita que a construção de um novo Brasil passa, obrigatoriamente, pelo exercício pleno da cidadania, a consolidação e a ampliação da democracia.
Ele sempre preconizou, nesta perspectiva, também a adoção de práticas de democracia direta – o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de lei, princípios consignados na Constituição e que tiveram de Freire uma defesa entusiasmada e eficaz.
No Congresso Nacional, destacou-se pela regularização da situação dos estrangeiros, empenhou-se na ampliação dos arcabouços legais para ampliar a reforma agrária, apresentou projeto para garantir as eleições diretas para os cargos de reitor e vice-reitor de universidades federais.
Paralelamente às atividades parlamentares e institucionais, Freire escreveu o seu nome na história como um homem aberto a novas idéias. Compreendeu criticamente os erros praticados sob a esfera do chamado socialismo real e, com coragem, liderou com outros antigos comunistas a travessia da velha tradição democrática do PCB à tradição renovada do PPS, criado em 1992.
Em um cenário (nacional e internacional) onde as forças conservadoras insistem em proclamar o óbito do pensamento socialista, Freire sempre defendeu publicamente a possibilidade histórica de construção de novos paradigmas a partir dos princípios do socialismo, como a igualdade, a liberdade, a democracia e a justiça social.
Foi esta visão de mundo que Roberto Freire expôs em sua impactante campanha à presidência da República, em 1989, juntamente com o saudoso sanitarista Sérgio Arouca (candidato a vice).
Freire superou a visão tradicional da esquerda marxista – os comunistas aí incluídos - ao vislumbrar o socialismo democrático e ao mostrar a inevitabilidade da globalização, ao mesmo tempo em que defendia a afirmação, dentro dela, dos valores democráticos e humanistas (e não os interesses do mercado, como sempre quis o neoliberalismo).
Aberto ao diálogo e avesso a posições sectárias – embora sem vacilar em relação a princípios -, Freire nunca vergou à direita nem fez concessões ao esquerdismo infantil, que tem por hábito se apresentar sempre com roupagens novas. Nesse sentido, acredita na construção de uma nova formação política no Brasil, capaz de conceber e executar novas estratégias de desenvolvimento e justiça social, tendo o PPS como um desses instrumentos.
Colocou-se em oposição ao governo Lula antes mesmo da revelação de sucessivos escândalos como mensalão, propinoduto, sanguessugas etc. Freire e o PPS foram os primeiros a afirmar publicamente que o novo governo não tinha projeto de Brasil e que dificilmente esse objetivo seria alcançado durante o exercício de poder. Por vários meses, denunciou a aliança de Lula com as velhas idéias econômicas e com grupos políticos fisiológicos e corruptos no Congresso, e sugeriu ao governo correções de rumos - que jamais foram ouvidas por Lula.
Leia também:
* Entrevista com Roberto Freire
* Conferência da Esquerda Democrática
* "Para entender o PPS: Um partido decente, uma opção consciente"