Claudio Magrão *
O dia 1º de Maio há muito mudou de identidade. O que antes era uma data para homenagear os trabalhadores mortos durante a greve geral em 1886, em Chicago, o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época, hoje é um espetáculo quase que totalmente sem conteúdo, ou melhor, um espetáculo que cujo conteúdo político pouco importa.
As comemorações do 1º de Maio sofreram algumas transformações ao longo dos anos no Brasil. Antes, elas sempre concentravam as reivindicações que estavam na essência da sociedade politizada como liberdade, justiça, melhores condições de trabalho. As manifestações alusivas à data já cumpriram a missão heróica de carregar o “não” à ditadura, o “sim” às Diretas, o “chega” de corrupção, a redução da jornada entre várias outras reivindicações históricas.
Mas hoje, numa tentativa de atrair mais gente e politizar mais pessoas, o foco foi alterado e a essência das manifestações ficou perdida em meio a tantas outras atrações.
Com a intenção de fazer as reivindicações chegarem a um número maior de pessoas – intenção válida, diga-se de passagem -, popularizaram a festa, trouxeram atrações, prêmios etc. O único problema disso tudo é que a iniciativa encontrou uma sociedade desmobilizada.
A culpa dessa desmobilização não é dos shows e atrações que hoje dominam as festas de 1º de Maio. Talvez o espetáculo puro e simples seja a conseqüência dessa sociedade sem perspectivas, que lota shows mas que não se lembra em quem votou nas últimas eleições.
Na época da ditadura, por exemplo, a luta era contra a repressão, pela liberdade de pensamento, pela democracia. Hoje a população, através de seus sindicatos, clama por empregos, melhores salários, qualificação, primeiro emprego e também jornada mais curta.
Na época da “dura”, o inimigo era visível. E hoje?
Hoje os inimigos são muitos: corrupção, Estados Unidos, juros altos, neoliberalismo, falta de investimento em educação. Qual inimigo combater primeiro? Podemos lutar contra todos ao mesmo tempo? E o governo, que já esteve do lado de cá da luta, pode ser responsabilizado por alguns destes “inimigos”?
São perguntas que não são mais respondidas, não encontram mais eco nas comemorações do 1º de Maio, mas que ainda devem estar na “ordem do dia” da sociedade, da mídia, do Congresso.
Então, a minha mensagem para mais esse Dia do Trabalho é de que cada cidadão tenha a consciência de unir a oportunidade de lazer proporcionada pelos shows com a prática da cidadania, que inclui o direito de manifestação.
* Claudio Magrão é deputado federal pelo PPS e presidente da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo.