O pedido de abertura da CPI da Navalha já conta com a assinatura de 130 deputados e 29 senadores, segundo último levantamento realizado nesta quarta-feira. O requerimento, apresentado pelos deputados Augusto Carvalho (PPS-DF) e Júlio Delgado (ex-PPS, atualmente no PSB-MG) recebeu o apoio de líderes da oposição e até de partidos da base do governo. Na Câmara faltam 41 apoios e no Senado já há duas assinaturas a mais do que o necessário.
Os dois parlamentares também colhem assinaturas para instalação de outra CPI para investigar a atuação de magistrados na venda de sentenças, escândalo revelado pela Operação Furacão da Políticia Federal.
Segundo Augusto Carvalho, o número elevado de apoio no segundo dia de coleta de assinaturas é uma demonstração de que as bancadas partidárias não querem ver o Parlamento envolvido em denúncias de corrupção. "Ninguém nesta Casa deseja que o Congresso volte aos tempos do pagamento de mensalão e da máfia das sanguessugas", disse o pepessista, ao relembrar dois dos escândalos que, na avaliação dele, contribuíram "substancialmente" para abalar a imagem do Parlamento.
A expectativa de Carvalho é de que até o final da semana seja possível conseguir os apoios necessários para instalar a comissão, que pretende investigar o escândalo de desvio de recursos públicos e pagamento de propina a agentes do Executivo e do Legislativo revelado pela Operação Navalha da Polícia Federal.
O pivô do esquema, a empreiteira Gautama, é acusada pela PF de ter montado uma rede de corrupção para fraudar licitações e desviar recursos orçamentários de obras públicas. "O Congresso Nacional não pode abrigar quadrilhas armadas para tungar o dinheiro público", criticou o parlamentar.
O escândalo de liberação de emendas em troca do pagamento de propina a parlamentares poderá, na avaliação de Carvalho, ser maior do que o dos anões do orçamento, cujas práticas irregulares foram desbaratadas através das investigações de uma comissão parlamentar de inquérito. As apurações provocaram a cassação de mandatos de deputados e senadores. Dessa vez, enfatizou Augusto Carvalho, a denúncia envolve, além da Câmara e do Senado Federal, quase todos os partidos e o Poder Executivo. "Todos eles saiam ganhando com essa fraude, menos o povo brasileiro", concluiu Augusto Carvalho.
OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) manifestou, nesta terça-feira, apoio à instalação da CPI. Em nota, o presidente nacional da OAB, Cezar Britto, considerou o momento "oportuno" para instalação da CPI das Empreiteiras. "A CPI das Empreiteiras poderia sanear esse importante segmento nas relações do Estado com a iniciativa privada", sugeriu na nota.
Para o presidente da OAB, as relações espúrias entre a empreiteira Gautama e diversos agentes públicos - entre os quais parlamentares, prefeitos, governadores e, supostamente, até um ministro de Estado - "recolocam em cena um enredo antigo, com o qual o país já se defrontou diversas vezes".